quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Ernani Zétola fala sobre os jornais de SJP

Segundo informação oral, minha mãe e meus tios me contaram que na
década de 20 aqui em São José tinha um jornalzinho chamado Lanceta. Era um
jornal clandestino, alias, não é bem essa a palavra, era um jornal publicado
anonimamente. Depois descobriram que ele era publicado por Abílio Alves de Brito,
filho do primeiro prefeito de São José dos Pinhais, Norberto Alves de Brito. Naquela
época o prefeito era nomeado para o cargo. Mas então, o Lanceta saia as vezes
semanalmente, as vezes quinzenalmente pela cidade. E o jornalzinho era feito pelo
próprio Alves de Brito no sótão de sua casa com um monotipo, era bem artesanal, e
ele mesmo fazia a distribuição do jornal na calada da noite, pulava muros, colocava
seu folhetim de notícias por baixo da porta dos moradores do centro da Villa. Na
época, São José era muito pequena. Abílio Alves satiriza todo mundo na cidade,
também fazia sátiras sobre a vila. Mas uma vez, a sua irmã – Lola Alves de Brito - de
Abílio Alves descobriu o seu jornal, ela subiu silenciosamente até o sótão e viu todos
os equipamentos, agora é uma loja aonde era a casa do Abílio. Mas então, depois
de uma briga com a Lola, ela destruiu os equipamentos de montagem do jornal.
Quebraram o pau e ele que era notícia aquele dia. Era um jornal crítico,
satírico. O jornal era uma folha apenas, era um folhetim. Mas não sobrou prova
nenhuma do jornal.
Na década de 50 surgiu o Correio de São José que foi fundado pelo Priscillo
Corrêa Junior, foi o primeiro jornal organizado, o Priscillo tinha a gráfica dele, fazia a
própria impressão. Eu trabalhei muitos anos com ele. A gráfica dele era no fundo de
quintal da casa, sempre tomávamos um cafezinho no final do dia na casa dele.
Mas no final da década de 50, o Priscillo vendeu o jornal para um grupo de
jovens. O Elon Fay Natal Bonin, Renê Miranda, Alceu Pires Machado e João Maria
de Araújo Franco. O Priscillo já estava cansado e não tinha ninguém na família dele
para assumir o jornal, por isso ele decidiu vende-lo. O grupo mudou o nome do
72
jornal para Tribuna de São José. Eles mudaram o nome lá por 58, vá ao museu, lá
tem as edições mais antigas da Tribuna. Afinal, no museu, eu doei vários jornais
para o acervo do museu. Mas se bem que o museu não é mais tão bem cuidado que
nem antes, vivem perdendo coisas por lá, e quem perde não sofre nenhum tipo de
punição ou conseqüência, está tudo muito avacalhado agora. O acervo dos jornais
está uma bagunça também, só ficou um bibliotecário lá da antiga gestão.
Só a Tribuna de São José que realmente agüentou tanto tempo, o Elon Bonin
é um guerreiro, vários jornais viram e se foram, e o Tribuna continuou, fechando
direto no vermelho, só nos tempos de eleições que entrava um dinheirinho a mais.
Eu lembro que na época [década de 70] você podia pegar a sua carteirinha de
jornalista no sindicato dos jornalistas, eu não peguei a minha, e na época eu tinha
mais de 20 anos de jornalismo. O pessoal da Tribuna, todos ganharam a carteirinha.
Depois da Tribuna, foi lançada a Folha de São José do empresário Sebastião
de Souza Cortes. Eu colaborei muito tempo nesse jornal. Depois da Folha, em 1976
foi fundado o jornal Objetivo do Alceu Pires Machado e Marcio Dombrowski. O jornal
deles apoiava o Moacir Piovesan [prefeito de São José dos Pinhais de 76 até 82]. O
jornal Objetivo fechou logo depois que o Moacir saiu da prefeitura, o jornal era
subsiado pela prefeitura. Na mesma época, outro jornal foi lançado, o Clarim. Esse
saiu em 1976. Foi fundando pelo Toco Valle. O jornal fazia oposição e satirizava o
Moacir Piovesan e fechou em menos de um ano por falta de subsídios políticos,
como era oposição, não recebia verba da prefeitura, e era difícil conseguir bons
anunciantes na época.
A Tribuna do Elon está circulando até hoje e também tem o São José Metrópole que
agora mudou o nome só pra Metrópole. O Ary Laurindo que é dono do Metrópole
abriu o jornal por causa da sua gráfica, da Helvética, ele imprime o jornal dele e a
Tribuna também. Ele lançou lá por 2001. Tem o Correio de Notícias e o Correio
Paranaense, mas esses eu não conheço bem os donos. Mas da historia da
imprensa, é isso.

(Entrevista à Rodrigo da Silva Ferraz, em 2009)

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